domingo, 12 de julho de 2009

Entrevista de António Costa ao jornal i

Diz que andou a arrumar a casa. Não lhe falta uma obra para encher o olho?

Não vim para cá com a lógica de "com papas e bolos se enganam os tolos". Este é um mandato especialíssimo, que resultou de uma crise gravíssima que, do ponto de vista político e de credibilidade, afectou o município. Foi um mandato muito curto de dois anos, que só faria sentido nesta lógica: dois mais quatro anos. Eu defini à partida três objectivos : arrumar a casa, pôr a câmara a funcionar e preparar o futuro. Acho que as pessoas percebem muito bem esta lógica. Toda a gente acharia irresponsável que, em vez de tratarmos de pagar as dívidas que tinham paralisado o município e estavam a destruir os agentes económicos, nos puséssemos a endividar ainda mais a câmara e a fazer obras para encher o olho. Ninguém perceberia que continuássemos na lógica do casuísmo com que irresponsavelmente se foram enganando sucessivos investidores e paralisando investimentos . Isso permite-nos dizer que hoje as contas estão em dia, temos regras claras em matéria urbanística, para a atribuição de casas, 248 artérias da cidade estão ser alcatroadas, vamos ter todos os jardins com contratos de manutenção assegurados. Temos uma carta estratégica em discussão pública, o PDM em discussão pública. Eu acredito na inteligência das pessoas e acredito que perceberam a nossa forma de governar e não estão disponíveis para ir nos encantos das cigarras, porque sabem que este trabalho de formiguinha, muito dele invisível, é um trabalho fundamental para que as coisas se possam fazer com princípio, meio e fim.

Mas a cigarra é muito simpática e a formiga um bocado chata. Não tem medo de Santana, um adversário difícil?

Os democratas não têm medo da democracia. Nós temos a felicidade de ter duas propostas claramente alternativas e distintas, na personalidade dos candidatos, nas políticas, no percurso e no balanço de cada um.

O que é isso da "personalidade"?

As pessoas percebem bem as diferenças entre mim e o candidato que se apresenta contra mim. O eleitorado percebe bem a distinção.

Mas, como disse João Soares, Santana Lopes tem mel e o túnel do Marquês?

Eu não vou discutir as vantagens de uma obra que terei muito gosto em acabar quando se encerrar o contencioso com o consórcio que a construiu - sobre aquilo que ficou por pagar. Mas vejo com muita injustiça que seja permanentemente obnubilado o contributo do Prof. Carmona para a execução dessa obra...

Quando chegou aqui, qual foi a situação mais burlesca que encontrou?

A total paralisia por ausência de meios financeiros. Quando a Dr.a Manuela Ferreira Leite introduziu em 2003, e bem, os primeiros limites à contracção de empréstimos bancários por parte dos municípios, todos os municípios resolveram ajustar as suas despesas às receitas que tinham disponíveis. A Câmara de Lisboa deixou de se financiar na banca e passou irresponsavelmente a financiar-se nos fornecedores. Foi assim que, entre 2001 e 2004, quadruplicou a dívida a fornecedores. A dívida não era só dramática para os fornecedores, mas também para a câmara. Porque é que a câmara esteve sete anos sem alcatroar a cidade? Porque já não havia nenhuma empresa que trabalhasse para a CML! Há danos profundíssimos cometidos na cidade devido a essa gestão absolutamente irresponsável.

Santana Lopes diz que tudo isso é um mito.

O Dr. Santana Lopes tem um dificílimo problema com a realidade. Acha que fez obras que não fez e acha que não fez dívidas que fez. Não é uma questão de opinião: basta ir ler os relatórios que o Tribunal de Contas produziu sobre as contas da gestão de Santana Lopes. Está lá dito com toda a clareza. O endividamento galopante a fornecedores iniciou-se com o Dr. Santana Lopes e desenvolveu-se com o Dr. Santana Lopes. Entre 2001 e 2004 quadruplicou a dívida a fornecedores e duplicou o passivo da câmara. E, ao contrário do que diz, não é por incorporação de dívidas anteriores, designadamente da Parque Expo. O Dr. Santana Lopes também gosta muito de falar de obras que não foram feitas. Dos 92 prédios entregues à EPUL para reabilitação quantos foram reabilitados? Cinco! Nas mega empreitadas em Alfama, Mouraria, Castelo, foi 80% da verba gasta e nem 40% recuperado. Sabe porquê? Porque foi tudo feito sem projectos, sem orçamentação e muitas das obras estão paralisadas desde 2004 por falta de condições financeiras para serem prosseguidas. A câmara deslocou os moradores para fora dos bairros e estamos a pagar um milhão de euros por ano de realojamentos sem que as obras estejam a ser feitas nas casas! A última coisa que pode passar pela cabeça de alguém é querer voltar à irresponsabilidade que caracterizou a câmara entre 2001 e 2004. É muito fácil estragar, é muito difícil voltar a arranjar.

Nem todos os fornecedores estão a ser pagos?

Há dívidas que não são pagas porque a despesa foi ilegalmente ordenada. Despesas que tinham necessidade de concurso e não houve concurso, que tinham que ser submetidas a visto de Tribunal de Contas e não têm o visto. São despesas que foram ilegalmente ordenadas, em que os privados ou forneceram os bens ou forneceram os serviços - e têm direito a haver sobre o município - mas nós não temos condições legais para pagar. Só poderemos pagar se viermos a ser condenados em tribunal. Isto é qualquer coisa como 50 milhões de euros.

Leia toda a entrevista de António Costa ao i.

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